Qualquer um pode zangar-se, isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa, não é fácil. – ARISTÓTELES
É comum encontrarmos pessoas mau humoradas em nosso caminho. Elas estão por toda parte (no trânsito, nas repartições públicas, nas filas dos bancos nos consultórios, etc.) Sua postura corporal é tensa; seu olhar é sério e crítico; sua testa sempre franzida causam sensação de mal-estar na pessoa que delas se aproxima. Dificilmente sorriem, são extremamente críticas consigo mesma e com os outros. Perfeccionistas não toleram as imperfeições dos outros. Têm medo de errar, não aceitam o fracasso. Passam 99% do tempo procurando alguma coisa errada para criticar. Para elas o mundo é um lugar ameaçador, ruim e as pessoas não têm mais salvação.
No ambiente social são consideradas chatas e anti-sociais, pois não aceitam as confraternizações em geral. Tudo lhes parece hipocrisia.
No de trabalho, se assumem posições de chefia, são excelentes pessoas para executarem tarefas, mas péssimas nos relacionamentos. Ganham mais pela imposição e medo do que pelo respeito e admiração.
Na família, como não sabem lidar com as emoções de amor e paciência, tudo irrita desde o barulho das crianças à reclamação da esposa, do marido ou dos vizinhos. São pais, severos nas críticas e nos castigos. Berram irados com os filhos que tentam argumentar. A família não tem espaço para se colocar emocionalmente. E assim desenvolvem doenças psicossomáticas ou algum distúrbio emocional (Depressão, Síndrome do Pânico, TOC ou podem partir para as drogas, alcoolismo, etc.).
Causas:
Ao conhecermos melhor essas pessoas, verificamos que são pessoas que, de alguma forma sofreram muitas pressões durante a vida. Tiveram pais críticos demais ou promíscuos demais. E todo esse mau humor no fundo não passa de uma armadura que elas usam para enfrentar em suas dificuldades.
Nossa primeira percepção de como as pessoas agem e como as coisas funcionam, se faz principalmente na infância. É nessa fase que a criança absorve do ambiente, principalmente o familiar, sua primeira impressão positiva ou negativa. Depois vem a escola e o grupo social. Se durante a infância e ou adolescência uma pessoa foi maltratada fisicamente ou moralmente, muito criticada, teve muitas perdas, ou tem sua infância interrompida. Com certeza estas experiências irão gerar um adulto cheio de feridas (ressentimento, mágoa, raiva, tristeza, culpa.) São as feridas causadoras do mau humor. Elas estão aprisionadas no inconsciente regredidas exatamente na idade em que sofreram sua experiência traumática.
Todo animal, quando está ferido, sua primeira reação instintiva é de se proteger, entocar-se para não se machucar ainda mais. Ele começa lamber sua própria ferida a fim de curá-la. Se outro animal ou mesmo o homem se aproxima, ele ataca ferozmente com medo de sofre mais. Assim são as pessoas que, ao longo da vida, foram feridas. No fundo elas se protegem reagindo de forma agressiva e hostil. Claro que essa é uma reação inconsciente, as pessoas não têm consciência das causas de tanto mau humor. Mas acabam desenvolvendo um padrão de comportamento que reafirma a posição de que o mundo e as pessoas são hostis. Quanto mais elas se protegem (com suas atitudes críticas e severas) mais as pessoas se afastam delas.
Outro fator que pode ser confundido como mau humor pode ser a Distimia. No Transtorno Distímico a pessoa passa, a maior parte do dia, deprimido, triste, de baixo astral. Vê tudo pelo lado negativo. Isolam-se. Sua auto-estima é baixa e sua crítica alta. Além destas causas, podem estar ligadas a fatores bioquímicos, como a alteração de Serotonina no cérebro
Tratamento:
O mau humor estar ligado a uma Depressão Crônica, o tratamento com antidepressivo traz mudanças positivas na vida da pessoa. A Terapia ajuda bastante a identificar o que causa o mau humor, e também a cicatrizar as feridas. Outras alternativas também são válidas como Relaxamento, Yoga, Tai Chi, etc. Tudo é válido quando a pessoa toma a decisão de querer mudar.
O autoconhecimento é como uma estrada que temos que ir caminhando em busca do nosso crescimento. Se pararmos, ficamos estacionados, em crise, e os outros passam, se continuarmos, cresceremos. Aparecerão outras dificuldades que constituirão novos desafios. Então, saberemos enfrentá-los com mais flexibilidade, inteligência e assertividade.
ARTIGO PUBLICADO NO SITE DA ACADEMIA BRASILEIRA E INTERNACIONAL DE PSICOLOGIA EM FEVEREIRO DE 2003.
Selma Amaro