Dando sequência aos textos sobre a Odontologia e o esporte que tal saber um pouco mais sobre aquele que é considerado o pai da odontologia esportiva?
Num país onde a maioria das pessoas só “entra para a história” quando morre, Mário Trigo foi daqueles que fizeram história em vida. Num tempo em que o futebol brasileiro ainda dava os primeiros passos para se tornar o melhor do mundo, ele trabalhava para manter em dia o sorriso e a saúde de atletas como Pelé, Garrincha, Zagallo, Zito, Nilton Santos, Didi, Vavá, entre outros. Pioneiro da Odontologia Esportiva no Brasil acompanhou as seleções brasileiras bicampeãs mundiais de futebol de 58 e 62, além da seleção de 1966.
Mário Trigo foi, até hoje, o único cirurgião-dentista a viajar com a delegação brasileira e a receber as faixas de campeão juntamente com os atletas – em 58 e 62.
A presença de Mário Trigo na delegação campeã mundial de 1958 foi o primeiro grande passo para a valorização da Odontologia Esportiva, área de extrema importância – o rendimento físico de um atleta pode diminuir em até 21% devido a problemas relacionados à saúde bucal. Em junho de 2006, o Jornal do CFO também prestou sua homenagem ao cirurgião-dentista, em reportagem do jornalista Marcelo Pinto:
“Eterno apaixonado por futebol, a ponto de jogar algumas partidas pelo Fluminense (como amador), o cirurgião-dentista Mário Trigo chegou à seleção nacional através do médico Hilton Gosling, que conhecera na época da universidade e com quem trabalhara em clubes cariocas. Recém-convocado, Trigo logo viu sua habilidade e senso de oportunismo serem postos à prova: às vésperas da viagem para a Copa da Suécia, em 58, tinha diante de si o desafio de deixar em dia a saúde bucal de 33 atletas. Como não havia estrutura de atendimento na CBD (antiga CBF – no lugar de Futebol usava-se “Desporto”), ele buscou, e conseguiu, o apoio da universidade por onde havia se formado: a UFRJ – à época, Universidade do Brasil. Em seguida, pôs em prática seu “planejamento odontológico”, atendendo os jogadores a partir das instalações da universidade, que ainda cederia seus estudantes de Odontologia. No “time” de Mário Trigo, atuavam 15 estudantes que faziam os exames e encaminhavam ao mestre os casos de cirurgia.
O saldo desse esforço concentrado, embora tenha livrado a seleção das temidas dores de dente, revelou o verdadeiro estado da boca dos atletas, mais semelhante a um esburacado campo de várzea: ao final, tinham sido extraídos nada menos do que 118 dentes – considerando os 33 jogadores, dava uma média de 3,5 dentes para cada um. “Extrações que poderiam ter sido evitadas, se houvesse tempo para o tratamento”, esclarece. Extrações que ele conseguiu evitar nos clubes cariocas em que atuou. Nesse período, ele notou que os atletas que apresentavam maior demora na recuperação de lesões eram justamente aqueles portadores de focos dentários. A partir daí, desenvolveu a tese que aplicaria na seleção brasileira com sucesso, a do “foco dentário com repercussão a distância”: segundo ela, a bactéria do foco dentário, após um tempo, entra na circulação sanguínea, espalhando-se como uma metástase e minando o sistema imunológico. Nesse caso, a única forma de acelerar a recuperação do atleta lesionado é tratando o foco dentário. Trigo cita um jogador que se beneficiou de sua intervenção: Zagallo – ao lado de quem o “pai da odontologia esportiva” foi bicampeão mundial”.
Com informações do Jornal do CFO, do Correio Braziliense, do site da CBF e da rádio CBN